Ajuste Fiscal

quarta, 11 de fevereiro de 2015

Setor de serviços perde o fôlego e deve desacelerar mais com ajuste fiscal

Os serviços, que vinham sustentando a economia brasileira, estão desacelerando em 23 das 27 unidades da federação. Apenas Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Norte têm aceleração no crescimento. No Sergipe, o segmento mantém ritmo estável. A tendência, afirmam analistas ouvidos pelo Valor, é que a desaceleração se intensifique em 2015, principalmente no primeiro trimestre, em razão dos ajustes na economia, como contenção dos gastos públicos.

O mau momento da indústria reduz a demanda por serviços de armazenagem, transporte e atividades imobiliárias, destaca Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria. Ela diz que a queda do setor comercial é outro agravante, uma vez que o setor é grande consumidor de serviços, principalmente os terceirizados, como limpeza e segurança.

“Acreditamos que o PIB de serviços tenha crescido só 0,8% em 2014″, diz Alessandra. “Para 2015, o resultado será bem pior, com alta de apenas 0,1%, devido à queda do PIB industrial, que estimamos que seja de 2,6%. Mas, com as informações que estão estourando sobre a Petrobras, é provável que reduzamos as expectativas para a indústria.”

Como São Paulo representa cerca de 40% da produção industrial do país, segundo o IBGE, o Estado também é a unidade da federação que mais contribui para a desaceleração dos serviços. Dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) ilustram o peso de São Paulo na desaceleração desse segmento. Em janeiro, o Estado representava 53,3% dos serviços do país e, em novembro, chegou a 35,1% de participação. Apesar da queda, São Paulo ainda tem a maior representatividade no setor de serviços.

“No Brasil, 90% dos serviços são voltados para as empresas”, diz Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “Os números de São Paulo só servem para intensificar uma queda do setor que é generalizada. A performance de São Paulo nada mais é do que reflexo da falta de disposição do empresariado em investir.”

Outro fator apontado para a desaceleração dos serviços é o mercado de trabalho, que desaqueceu em 2014. Com menos vagas geradas e crescimento menor da renda, o consumo de serviços pelas famílias também tem crescido menos. Alimentação e alojamento são os mais afetados.

De acordo com o IBGE, os serviços prestados às famílias (que representam 10% da estrutura de serviços do país) cresciam quase 14% em janeiro de 2014 ante igual mês do ano anterior. Com o passar dos meses e sem melhora no mercado de trabalho, o segmento passou a crescer 4,4% em novembro.

“Mesmo crescendo menos, o aumento da renda do trabalhador não tem sido direcionado ao consumo de serviços por causa da inflação”, afirma o pesquisador do IBGE Roberto Saldanha. Alessandra, da Tendências, acredita que, com o arrefecimento da atividade em serviços, a inflação do segmento também vai desacelerar. Na prática, a inflação dos serviços já vem desacelerando, mas menos do que imaginávamos inicialmente”, diz ela. “Mas esse resquício de desaceleração da atividade baterá mais forte no IPCA de serviços de 2015.”

Alessandra projeta IPCA de serviços de 7,5% ao fim de 2015. “Podemos revisar para baixo o IPCA de serviços, se a conjuntura piorar”, acrescenta.
Fonte: Valor Ecônomico

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