O município de Cruzeiro do Iguaçu, em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Dois Vizinhos, está estudando a implantação de um projeto que irá produzir biogás nas propriedades rurais do município. Se a iniciativa der certo, a expectativa é que ela seja expandida para outras cidades do Sudoeste, como uma boa alternativa para tornar as propriedades rurais autossustentáveis na produção de energia.
Além da UTFPR e do município de Cruzeiro do Iguaçu, o projeto conta com o apoio da Região Autónoma da Friuli Venezia Giulia da Itália, através do Centro de Ecologia Teórica e Aplicada (Ceta), que possui grande experiência na transformação de resíduos vegetais e animais em energia. Na semana que passou, eles assinaram o Termo de Cooperação com a Prefeitura de Cruzeiro e a UTFPR e, além de fornecer as tecnologias e a metodologia do projeto, o centro italiano também vai repassar o valor de € 75 mil, destinados para o financiamento do “Projeto Leitenergia”.
Conforme o secretário de Planejamento e Finanças de Cruzeiro do Iguaçu, Edson Bertoldo, a escolha por Cruzeiro ocorreu através do médico veterinário que atua no município. Ao cursar o doutorado na região italiana, falou sobre as potencialidades do município para desenvolver um projeto de biogás, surtindo assim o interesse dos italianos em trazer o projeto para o Brasil. “A produção do biogás lá na Itália já acontece há mais de 30 anos. Aqui no Brasil é algo meio recente. Eles têm a intenção de trazê-lo para cá principalmente porque aqui, na região Sul, temos uma grande presença de descendentes de imigrantes italianos”, comentou.
Diagnóstico
Agora o projeto passa pela etapa do diagnóstico das pequenas propriedades de Cruzeiro do Iguaçu, com a finalidade de identificar quais têm capacidade e interesse na produção do biogás. Neste diagnóstico, Bertoldo falou que será usado um software criado pela equipe italiana que facilitará a análise dos locais e será possível ter a dimensão técnica e econômica de quanto poderá ser produzido de biogás com cada tonelada de esterco, entre outros dados necessários para a viabilidade do projeto.
O professor Almir Gnoatto é um dos coordenadores do projeto pela UTFPR campus Dois Vizinhos. Ele explicou que o papel da Universidade nesta etapa será participar do diagnóstico, utilizando as tecnologias e metodologias italianas. Para isso, eles irão visitar cerca de 60 propriedades no município de Cruzeiro, onde serão coletados dados, como o número de animais existente na propriedade, para ter uma base do potencial de produção de esterco. Eles também pretendem fazer uma projeção da potencialidade da região Sudoeste para a produção do biogás com dados já existentes sobre as propriedades.
Finalizado o diagnóstico, será realizado um seminário com os agricultores, proprietários dos laticínios e técnicos das prefeituras ligados às secretarias de Agricultura e Meio Ambiente. Neste encontro será explicado como é feita a produção do biogás e as vantagens desse processo. Esta etapa deve ser finalizada até dezembro deste ano, quando haverá mais um encontro entre os parceiros para apresentar os dados do diagnóstico. A parte prática do projeto, com o início da produção do biogás nas propriedades, deve acontecer apenas em 2015.
Produção
A produção do biogás é feita através dos dejetos de animais executada apenas em propriedades que atuam com a bovinocultura de leite, suinocultura e avicultura. Além disso, serão aproveitados os resíduos do setor de laticínios, onde o soro será o material necessário para ajudar na produção do biogás que usar os resíduos extraídos da bovinocultura e da avicultura.
“Os dejetos da bovinocultura são mais sólidos e um líquido precisa ser incorporado no processo da produção do biogás, então o soro dos laticínios seria misturado. Da mesma forma acontece com a cama de aviário”, explicou Bertoldo.
Além de viabilizar a produção de energia dentro da propriedade rural — onde o produtor poderá usar o material como gás de cozinha, aquecimento de água —, pode haver um processo cooperativo, disponibilizando energia elétrica para outros produtores, como já acontece no Oeste do Paraná, através do Centro de Estudos do Biogás do Parque Tecnológico Itaipu (PTI). A produção do biogás também vai ajudar os produtores a dar o destino correto para os resíduos dos animais, fazendo um modelo de manejo apropriado, que não causa danos ao meio ambiente.
Região Sudoeste
No momento, as propriedades rurais de Cruzeiro do Iguaçu farão parte do projeto piloto Leitenergia. Contudo, a ideia, de acordo com o professor Gnoatto, é expandir para outros municípios da região. Inclusive a possibilidade de expansão dar certo é grande, pois, segundo informações da UTFPR campus Dois Vizinhos, na região Sudoeste a bovinocultura leiteira desempenha uma importante função econômica e social, já que a região é a maior bacia leiteira do Paraná, produzindo 1/3 do leite produzido no Estado (1 bilhão/ano) através das mais de 27 mil propriedades. Além disso, é uma região que possui centenas de lacticínios, o que permite projetar a produção do biogás a partir da mistura do esterco e do soro de leite, criando uma sinergia entre os dois setores da cadeia da bovinocultura leiteira.
Fonte: diariodosudoeste.com.br