A Carta do Sudoeste deste ano, documento elaborado por mais de 80 entidades, deu um enfoque especial para um dos principais gargalos da região: a ausência de infraestrutura de transporte. É o primeiro tema abordado e faz uma série de reivindicações que estão sendo entregues para os candidatos ao Governo do Estado. Segundo o documento, a ausência de infraestrutura moderna dificulta os investimentos, prejudicando o desenvolvimento e o progresso regional.
Há um levantamento pronto indicando quais os principais investimentos necessários para atender a demanda do setor de transportes. O estudo de tráfego das rodovias da região Sudoeste foi elaborado visando fornecer uma ferramenta para empreender ações técnicas e políticas na priorização dos trechos rodoviários, na definição de projetos a serem elaborados, na articulação de recursos para obras e para atuação junto às instâncias governamentais competentes.
O secretário executivo da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop), José Kresteniuk, acredita que, entre todos os pontos elencados pela Carta do Sudoeste, o mais emergencial é a melhoria da malha rodoviária da região. Na visão dele, é o principal obstáculo ao crescimento da região e que precisa de um discurso unificado para que as obras saiam do papel.
Mais de 50% dos acidentes ocorrem em locais de faixa contínua
Entre as principais questões levantadas pelo estudo de tráfego estão os acessos das propriedades às rodovias. Todas as rodovias do programa de estudos têm acessos com visibilidade insuficiente - conforme normas do Dnit - e foram responsáveis por 9% dos acidentes registrados na região. A recomendação é que sejam fechados ou mudados de local. Outra constatação é a necessidade de reduzir as extensões de faixa contínua, porque as ultrapassagens em locais de faixa contínua constituíram 52% dos acidentes nas rodovias da região. Diversas são as rodovias com proibição de ultrapassagens em mais de 75% de sua extensão.
O estudo indica a importância de se elaborar um programa de conscientização da população para não realizar ultrapassagens em locais onde a faixa de sinalização horizontal é contínua. A dificuldade de evitar ultrapassagens nesses locais é devido ao fato de que existem longos segmentos de faixa contínua em quase todas as rodovias que fazem parte do programa de estudos. O projeto de redução de acidentes pede atenção especial na interseção da BR 163 com PR 182, nas proximidades da comunidade da Marmelândia (Realeza). É o ponto crítico que registrou o maior número de acidentes - 34 ocorrências no período 2008 a 2010.
"Depois de cada chuva,tem que rezar um Pai Nosso"
Quem usa as estradas todos os dias é que sabe o alto custo e o risco de trafegar por pistas mal planejadas. O motorista Silvan Ritter, 27 anos, caminhoneiro da cerealista Peron Ferrari, de Santo Antônio do Sudoeste, afirma que alguns trechos precisam de duplicação imediatamente. "Está na hora de mudar um pouco isso aí e botar todos os impostos que pagamos para rodar em estradas de boa qualidade. Hoje só temos estradas boas onde pagamos pedágio."
Alguns trechos, segundo ele, são quase intransitáveis. "O condutor corre o risco de estourar o pneu e perder o controle. Além disso, o grande medo é se envolver em acidente com carros menores." Outra grande indagação do motorista é com relação à qualidade do pavimento. "Depois de cada chuva, tem que rezar um Pai Nosso. Surgem buracos em todas as rodovias. Acho que o serviço de conservação não deve estar sendo bem-feito."
O descaso do poder público leva os motoristas a pedirem estradas pedagiadas. "Eu sou a favor do pedágio, porque você roda em estrada boa mesmo se tem assistência e tudo, e a região nossa aqui tá complicada, as estaduais aqui você está passando por dentro só de buraqueira, daqui até União da Vitória é complicado. (FP)
Entidades pedem parceria público-privada e pedágio justo
O presidente da Agência de Desenvolvimento Regional, Luiz Carlos Peretti, observa que a melhoria das rodovias é um anseio grande da classe empresarial. "Precisamos reduzir o custo Sudoeste e tornar nossos produtos mais competitivos, mas sem investir em infraestrutura e logística, isso é impossível." Conforme disse, tanto a Carta do Sudoeste como o Plano de Desenvolvimento Regional Integrado (Pdri) elencam as rodovias como a principal exigência para o desenvolvimento da região. "A infraestrutura é apontada como o principal fator limitante, porém de difícil intervenção. Investimentos em infraestrutura para construção ou ampliação de estradas, ferrovias e até mesmo um aeroporto regional demandam grandes volumes de recursos articulados pelo Governo do Estado e Governo Federal", diz o documento. Peretti observa que existem modelos de gestão que deram certo no país através das Parcerias Público-Privadas (PPPs).
De acordo com o gerente administrativo da Coptrans (Cooperativa de Transportes 14 de Dezembro), Iduir Bortot, medidas simples como a melhoria da sinalização horizontal já surtiriam efeito positivo, pois ajudariam a amenizar o cansaço dos motoristas. A entidade representa mais de 450 caminhões, dos quais 300 fazem suas rotas na região Sudoeste. Não existe um levantamento específico, mas Bortot acredita que o custo do transportador que trafega por estradas mal conservadas aumenta em média 40%.
Bortot salienta que houve um aumento substancial na circulação de veículos, contudo, os investimentos não seguiram a mesma proporção. "Não deveriam deixar as rodovias chegarem a este estado. É preciso manutenção periódica, com reparos bem-feitos e ninguém se negaria a pagar um pedágio, contanto que fosse um valor justo."
A PRC 280, entre Pato Branco e Palmas, é um dos grandes problemas rodoviários do Sudoeste. O Estado começou uma operação de tapa-buraco, mas as lideranças já sabem que a medida é paliativa. A estimativa é que sejam necessários cerca de R$ 300 milhões para sua recuperação total. O prefeito de Palmas, Hilário Andraschko (PDT), chegou a decretar situação de emergência em seu município no mês de julho devido às péssimas condições de conservação da rodovia. O administrador público salienta que a decisão foi importante porque permitiu que o Estado fizesse investimentos em caráter emergencial naquele trecho. A PRC 280 é uma das principais rotas de ligação entre o Sudeste e o Sul do país.
Brasil
Malha Rodoviária Pavimentada 202.589 100
Federal 64.921 32
Estadual 110.842 55
Municipal 26.827 13
Malha Federal Concedida 8.000 3,9
Malha Federal a Conceder - PIL 7.494 3,7
Propostas da carta
Corredor Sudoeste: incluindo os trechos da via principal que corta a região, com entrada no trevo da BR 153 (Palmas) à entrada da BR 163 (Realeza), beneficiando os trechos da PRC 280 e PR 180, no modelo PPP (Parceria Público-Privada);
Corredor da Produção Agrícola: compreende o trecho da PR 281 (Entrada na BR 373 - Trevo de Chopinzinho à PR 493 - Dois Vizinhos); o trecho da PR 281 (Entrada da PR 493 - Dois Vizinhos à entrada da BR 163 - Capanema); o trecho da PR 180 (entrada PR 281 - Dois Vizinhos a Francisco Beltrão), projeto a ser executado com recursos do tesouro do Estado.
Corredor Fronteira: Compreende o trecho federal de Barracão a Capanema, que necessita de projeto de modernização. Há possibilidade da federalização de trechos estaduais, o entendimento é que as rodovias necessitam de obras importantes.
Investimentos x PIB: Os investimentos em infraestrutura em 1970 representavam 1,8% do PIB (Produto Interno Bruto). Na década de 1990, despencou para menos de 0,2%. A partir de 2003 voltou a subir e em 2010 chegou a 0,7%.
Fonte: Jornal de Beltrão