Quem olha para o Sudoeste do Paraná e vê uma região nanica, distante dos grandes centros, com apenas 6% da população, não faz ideia do potencial de crescimento que há por aqui. Um levantamento elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) demonstra que a força política, somada à iniciativa empresarial e associativista, está ajudando o território a alcançar os melhores índices econômicos e sociais do Paraná.
As duas principais cidades, Francisco Beltrão e Pato Branco, estão no topo da maioria dos indicadores de qualidade de vida. No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Pato Branco ocupa a 4ª posição estadual e Francisco Beltrão a 7ª (dados do Censo de 2010). Já no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), as posições se invertem: Francisco Beltrão passa para 5º lugar e Pato Branco é o 9º. O clima entre as duas cidades não é de disputa, mas de parceria e cooperação, para inverter um cenário que já foi desanimador com o êxodo populacional nos anos 80 e 90.
De 2008 a 2013, o Sudoeste teve um crescimento populacional de 5,5%, ficando atrás apenas da região Noroeste (6,5%). No mesmo período, a região Oeste, composta por grandes cidades como Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo, teve um decréscimo de sua população de 0,5%. Há quem diga que o Sudoeste está correndo atrás do prejuízo, em função de décadas de estagnação. E nisso há certo fundo de verdade, pois a taxa de pobreza é a segunda maior do Paraná (36,9%).
Maior crescimento do PIB
O Produto Interno Bruto (PIB) do Sudoeste representa apenas 5% do Estado. Contudo, de 2006 a 2011, foi a região do Paraná que apresentou o maior crescimento (34,9%) dentre todas as outras. Um resultado excelente se considerar que no mesmo período o Paraná cresceu 23,1% e o Brasil, 22,9%. Os setores mais importantes são comércio e serviços (56%), indústria (24%) e agropecuária (20%). O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região.
Na opinião do economista José Maria Ramos, a melhora dos indicadores econômicos e sociais do Sudoeste do Paraná se deve, em parte, aos avanços na renda que decorrem do aumento da produtividade das atividades agropecuárias e industriais, bem como a política salarial (tanto do setor privado como público) que, somada à disponibilidade de crédito, amplia demandas no setor de serviços, que passa a gerar emprego e renda.
"Por sua vez, as atividades relacionadas à agropecuária não tiveram impactos significativos decorrentes da crise de 2008, embora o mercado internacional tenha reduzido sua capacidade de importação, mas não ao ponto de prejudicar nossas exportações de commodities. Considerando que a demanda agregada interna ampliou, pequenos entraves internacionais não prejudicaram o setor", afirma o economista. Ele lembra que o Sudoeste também tem recebido aportes significativos de investimentos, tanto do setor privado como público (em infraestrutura e serviços), criando um ambiente de otimismo que estimula novos investimentos.
A região tem 4% dos empregos formais do Estado, mas a taxa de desemprego é a mais baixa, com 3,5%. Em 2012, 61% dos postos de trabalho eram gerados pelo comércio e o setor de serviços, seguido pela indústria (32%) e agropecuária (7%). O empresário Fabrício Valenga, presidente da Associação Empresarial de Pato Branco (Acepb), acredita que um dos diferenciais da região para buscar a melhoria em seus indicadores é o perfil empreendedor das pessoas "e, por isso, figura entre as melhores regiões do nosso Estado."
Ele observa que há um grande crescimento no setor de prestação de serviços, principalmente na área de softwares, "setor em que somos referência em nível de Brasil, com muitas empresas de grande porte instaladas na região. Temos uma boa qualificação de mão de obra nesta área nas universidades regionais".
Para Antonio Pedron, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Francisco Beltrão (Acefb), o desenvolvimento foi estruturado pela oferta de serviços com qualificação, como na área de saúde e educação, com abertura de universidades. "Além disso, nós tivemos o impacto positivo com relação ao preço oferecido aos produtores de alimentos e a agroindústria. O investimento público municipal em saúde e educação básica foi fundamental para o despertar da população da necessidade de praticar saúde básica, ou seja, saúde preventiva motivada pelo Estado e chamar a responsabilidade de cada um", comenta Pedron.
Para o presidente da Acefb, o progresso chegou pela facilidade das informações, imprensa livre e processo democrático. "Acesso da população aos meios de comunicação para demonstrar seu interesse ou desinteresse pelos assuntos políticos. Falando em processo político, o brasileiro está progredindo, se interessando pela classe política e entendendo ser necessário participar", diz Pedron.
Indústria precisa crescer mais
E não é só isso, outro ramo que está em expansão é o industrial. O desempenho do PIB industrial de 2006 a 2011 foi o segundo melhor do Estado, com 33,1%. O Paraná e o Brasil, no mesmo período, tiveram crescimento de 12% e 16%, respectivamente. "Temos várias grandes indústrias na região que, com certeza, contribuíram muito para o aumento do PIB regional. Soma-se aí a cultura associativista e cooperativista, que faz com que cada vez mais as empresas se unam em busca de objetivos comuns, fortalecendo muito os setores e conseguindo bons resultados", entende Fabrício.
A região tem 40,5 mil empregos formais no setor industrial (5% do estado) e contabilizou um crescimento de 34,8% de 2006 a 2011. Apesar do bom desempenho, ficou abaixo da média estadual e nacional, na faixa de 39% cada. Os principais setores que geram empregos industriais no Sudoeste são vestuário e acessórios (19,9%), alimentação (19,2%), construção civil (14,4%), madeira (9%) e produtos de metal (7%).
Trabalhadores da Marel numa das máquinas da linha de produção.
Outros fatores
O empresário Edson Flessak, diretor da Flessak Eletro Industrial, de Francisco Beltrão, diz ter certeza que a região cresceu em números, "mas o crescimento não pode ser balizado em um índice, pois dá margem para múltipla interpretação". Ele entende que há muitos outros fatores que podem ter contribuído para elevar o PIB regional, até mesmo uma eventual fiscalização acirrada do fisco.
Na avaliação dele, o crescimento do PIB no Sudoeste é fruto da integração das forças políticas e produtoras. Entretanto, é preciso observar que, comparado ao crescimento de outros índices, "nós estamos engatinhando e abaixo do necessário pra atender o crescimento da população".
O Sudoeste tem 3.083 estabelecimentos industriais, e dos investimentos recebidos entre 2011 e 2013, ficou na penúltima colocação, com R$ 2,6 bilhões (5% do estado). Os setores que mais investiram foram eletricidade e gás, transporte terrestre, alimentos, água, materiais elétricos, construção civil e outros. Um exemplo de investimento são as obras de ampliação do parque industrial da Alcast do Brasil, empresa do ramo de alumínio, localizada em Seção Jacaré, em Francisco Beltrão. Depois de inaugurada, a nova unidade da Alcast deve gerar mais de 200 empregos diretos e uma das maiores arrecadações de ICMS do município.
Tanto a Prefeitura de Beltrão quanto o Governo do Estado estão incentivando a ampliação da unidade da Alcast com benefícios fiscais e de cessão de maquinário. O prefeito Antônio Cantelmo Neto (PMDB) destaca que esse é o maior investimento na área industrial realizado no município no momento. "Estamos incentivando a geração de emprego e renda para a população e também acreditando no aumento da arrecadação para o município", falou recentemente.
Segundo o empresário Elisandro Carles, diretor da indústria, será construído um barracão e haverá aumento da capacidade de geração de energia para a operação da indústria. A empresa vai entrar no mercado de laminados de alumínio, utensílios domésticos, gráfico, automobilístico (lâminas para fabricação de furgões e outros) e construção civil (telhas, calhas, rufos em alumínio). (*Colaborou Lígia Tesser)
Otimismo no setor de móveis
Edgar Behne, da Marel.
Edgar Behne, presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis, Madeiras e empresas do setor do Sudoeste do Paraná (Sindimadmov) e diretor da Marel, observa que, se forem analisados os números desde 2008, o setor de móveis tem crescido em média 11% ao ano. Especificamente em 2010, foi o ano que a economia cresceu bastante e o setor moveleiro acompanhou o cenário nacional, no entanto, em 2012 e 2013 o crescimento reduziu e ficou na faixa de 8%.
"O Sudoeste se fortaleceu no setor moveleiro, se for considerar Beltrão, Pato Branco e Ampere, o desenvolvimento foi bem significativo, quando se observa o número de empregos, faturamento e número de empresas. Um dos grandes entraves para empresas do interior é a falta de infraestrutura nas estradas, o que tem interferido diretamente no crescimento, pois traz um custo adicional para nossa localização", frisa Edgar Behne.
O presidente do Sindimadmov diz que foi projetado um crescimento maior do que está acontecendo neste ano, por isso a expectativa para 2015 é tímida. Segundo Edgar, o ano que vem será de ajustes, o que pode deixar os clientes tímidos. "Após a Copa do Mundo e as eleições, nós vamos reavaliar a expectativa para o ano que vem. Porém, o segundo semestre deste ano me parece mais positivo, pois acredito que o Governo Federal deve soltar alguma coisa que dará uma aquecida no mercado", comenta Edgar.
Fonte: Jornal de Beltrão