Previsão econômica

segunda, 07 de dezembro de 2015

Lideranças empresariais analisam previsão econômica de Darci Piana

“A crise não está nem na metade”. O ponto de vista de Darci Piana silenciou parte dos espectadores que estavam na entrega da homenagem “Comenda 1º de Maio” ao presidente da Federação do Comércio (Fecomércio/PR) na Câmara de Vereadores de Francisco Beltrão, terça-feira, 1º de dezembro. Empresários e diretores institucionais analisam a forte declaração de Piana, quando o representante dos empresários dos setores de serviços, comércio e turismo do Estado declarou a frase que abre essa reportagem.

“É uma das crises mais graves que o Brasil passou, além da crise ética que existe. A queda nas vendas no mês de novembro deste ano chegaram a 11,9%. Se compararmos com o mesmo período do ano passado, a queda foi de 7%. A inflação dos produtos e serviços anunciados pelo governo federal, de 8,5% a 9%, é muito mais do que vem sendo divulgado. Os preços de alimentos nos supermercados subiram em média 23,8%. Temos conhecimento de aumento de preços de até 33%, tudo isso reflete negativamente na economia”, acrescenta Piana.

Uma das inquietações levantadas pelo presidente da Fecomércio é que existem trabalhadores recebendo o seguro-desemprego e estão com o ‘pé no freio’ para o consumo. “Essas pessoas estão gastando menos, aí chega fevereiro, março do ano que vem, elas deixam de receber esse direito trabalhista e precisam comprar materiais escolares, pagar impostos como o IPVA e IPTU. E pior é que não terá emprego para todos nos próximos meses. Entendo que aí sim chegará realmente a crise”, prevê Piana.

O empresário Edson Flessak, ex-presidente da Associação Empresarial de Francisco Beltrão (Acefb) – gestão 1995 a 1997 – contemporiza a situação econômica e avalia a opinião de Piana. “Concordo que a crise não está na metade, principalmente nós que vivemos numa região de minifúndios e de uma base agrícola muito forte, não sentimos a gravidade. Costumo dizer que muitos ainda têm uma galinha e uma horta no fundo de casa, diferentemente de um grande centro, onde as pessoas dependem de tudo. Mas acredito que, quando essas pessoas deixarem de receber o seguro-desemprego, os reflexos da crise serão sentidos. Essas pessoas vão estar endividadas, sem emprego e sem perspectivas de melhora”, avalia Flessak.

“Uma pergunta que sempre faço: de quem é a responsabilidade de gerar empregos? Por que uma empresa tem que segurar um funcionário mesmo tendo prejuízo? Entendo que a sobrevivência de uma empresa depende de faturar mais do que se gasta para sobreviver. Se o meu faturamento não cobrir meus custos, terei que reduzir essas despesas. E salário do funcionário também é um custo para a empresa”, enfatiza Flessak.

Hora de reflexão

Piana disse que os empresários devem ter consciência e cuidado com as demissões, mas principalmente com os financiamentos bancários. Outra mensagem é direcionada aos sindicatos patronais e de empregados. Para Darci, o diálogo é fundamental nesse momento.  “Cada vez que o empresário demite um funcionário, ele diminui a capacidade de compra no comércio. Se acontecerem muitas demissões, a crise se agrava. Nesse momento, todas as soluções que visam manter os empregos são boas. Mas é difícil de fazer os sindicatos dos empregados enxergarem isso com bons olhos. Penso que é melhor ganhar menos e manter o emprego do que ganhar um pouco mais e não ter o emprego. Cada vez que um funcionário não é demitido, é um salário a mais que circula na economia. Entendo que todos, empregados, empregadores e sindicatos devem ir à mesa de negociação e conversar muito sobre isso.”

De acordo com Piana, o setor comercial no Paraná é responsável pela geração de dois milhões e cem mil empregos, o que representa 63% do PIB do Estado. “Tudo isso passa pelo comércio nas mais de 500 mil empresas. Porém, somente neste ano, foram demitidos 200 mil trabalhadores nesse setor”, revela.

O empresário ainda tem dinheiro em caixa?

Circulam opiniões entre a população de que o empresário brasileiro ainda tem uma “gordurinha” para queimar, ou seja, tem dinheiro em caixa para se manterem no mercado. Para Flessak, alguns empresários demoraram a perceber que a crise chegaria. “A maior parte desse dinheiro é para o capital de giro, e agora isso tudo vem se diluindo nos últimos anos, porque a crise tá aí. Outros empresários diziam que a situação estava complicada e as pessoas falavam: eles choram de barriga cheia, quando na realidade esses empresários estavam prevendo a crise. Agora a despesas ultrapassaram as receitas e as instituições que previam investimentos, vão usar essa ‘gordura’ para se manterem abertas”, analisa Flessak.

Elóis de Arruda Rodrigues, vice-presidente para Assuntos de Núcleos da Acefb e empresário do setor de tecnologia da informação diz que a afirmação de Piana confirma uma sensação que circula entre os empresários. “O sentimento negativo é certo que a crise não está na metade, contudo, isso nos traz uma mensagem de esperança, pois é na crise que se superam as dificuldades. A gente percebe isso nas conversas com amigos, colegas de trabalho, que realmente existe crise. Mas ao mesmo tempo percebemos que existem alternativas para superarmos esse momento.”

Crise pode mudar conceitos

A presidente da Câmara da Mulher Empreendedora de Beltrão, Franciele Schmitz  percebe que, com a crise, os trabalhadores estão mais compromissados com suas ocupações, deixando de lado a estratégia de trabalhar por um período em uma empresa e pedir demissão, visando o seguro-desemprego. Inclusive a instituição vem capacitando colaboradores e empresários com o objetivo de reter a mão de obra com qualidade nas repartições. “A Câmara acompanha as ações coletivas das empresas e também os números da agência do trabalhador. Percebemos que a quantidade de emprego no Município vem diminuindo, ao mesmo tempo que o comprometimento não só dos empresários, mas da população, vem mudando. Acredito que o perfil dos trabalhadores em busca de emprego está diferente, pois até então víamos um descompromisso por parte deles, que pensavam: vou ser demitido, vou receber o seguro-desemprego e aí depois vou procurar um novo emprego.”

Marcos Guerra, presidente da Acefb se diz em alerta quanto ao momento vivido pelo Brasil. “A fala do Darci Piana nos traz essa preocupação, que a crise não está nem na metade, e não está mesmo. Quando ele falou dos trabalhadores que estão recebendo o seguro-desemprego e depois de receber as parcelas, como vai ficar a situação, acredito que ele acertou em dizer que haverá uma diminuição muito representativa da renda e devemos enfrentar dificuldades em 2016. A Acefb percebe que os empresários não estão com medo, mas estão precavidos. Aqueles que não vinham acompanhando o mundo político voltaram a acompanhar o que está acontecendo, até porque o país precisa urgentemente de um alinhamento das forças para voltar a crescer”, pontua Marcos.

Acordo do Pacífico

A imprensa mundial noticiou em outubro deste ano o Acordo Trans-Pacífico, que abrange os principais países da Orla do Pacífico, como Estados Unidos, Japão e outros dez países. É considerado o mais profundo acordo de liberalização do comércio em uma geração. O objetivo é eliminar tarifas entre esses países para a comercialização de determinados bens e serviços. Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã fecharam o acordo. O Brasil não. Piana explica o que isso pode acarretar na fragilizada economia brasileira. “Enquanto o Mercosul procura fazer parceria com Bolívia, Venezuela, com outros países que enfrentam dificuldades, os países acima citados estão se aliando com outros de poder de compra maior, como os  da União Europeia. Vale destacar que o Mercosul tenta uma negociação com  a União Europeia há 13 anos. Se nós não conseguimos fechar esse acordo com os Estados Unidos, ficaremos de fora do mercado mundial, e isso pode prejudicar ainda mais o nosso país.”

Nos dias 18, 19 e 20 de dezembro haverá uma reunião do Mercosul no Paraguai, onde haverá a transferência de cargo do atual presidente paraguaio, Horácio Cartes. Piana deve participar do evento e espera que o Brasil, juntamente com a União Europeia e suas bases de negociações fechem acordos econômicos até junho do ano que vem. “Se isso não acontecer, enfrentaremos dificuldades maiores.”

Fonte: Da assessoria/Acefb

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